sexta-feira, 8 de abril de 2011

dossiê do bicho xícara









Coitada, a xícara já nasce capenga do vôo. Dão-lhe uma asa só e de uma asa só a xícara cresce suas funduras em tristezas.  É de doer tanto no coração de quem a vê que esse quem-a-vê oferta à xicrinha mocha aromas em líquidos com quenturas em ranchos dum subentendido conforto. Tem sim, vezes em que esse mesmo quem-a-vê usa da ingenuidade da xícara para fins quase econômicos, enche a coitadinha de moedas sem tanto valor e parafusos sem usos e alfinetinhos e clipes e grampos e poeira e, quandosim-quandonão, o quem-a-vê entope a mono-asa com as porquinhas dos parafusos sem usos, fato que, de uma forma um tanto exaurida do chá, alegra a bichinha xícara pois a coloca mais próxima do termo e lance animal. O acasalamento dá-se por total conta da fêmea visto que o macho, além de ser raso em obstinações, encontra-se em outra categoria, a PIRES-PRATOS-PRATINHOS-E-SUPLÁS. As xícaras floridas não sobrevivem aos armários; carecem de ar e sol frescos (como estamos falando de bichos é primordial que réstias do assunto sejam devidamente claríssimas. Uma delas: quando fala-se em frescura, no caso ‘carecem de ar e sol frescos’ acima, não devemos nunca usar de leviandade confundindo o termo com confusões sexuais, digo, fresco não é bicha na categoria BICHOS, a não ser, é claríssimo, no caso dos veadinhos e golfinhos exibicionistas.). As chinesas estão em fase de extinção e a xícara japonesa tem a asa tão pequenininha que o milenar ritual de tentar enxergar a asinha fez dos olhos japoneses esses pedacinhos apertadinhos do horizonte. As vizinhas sempre vão pedir açúcar. As psicodélicas exalam cogumelos e não freqüentam o evento água+esponja+detergente. As alcoólatras moram nos guarda-roupas, de ponta-cabeça e no topo das garrafas de destilados. Tem também as desgraçadas, condenadas xícaras ao estranho ritual de choque de temperaturas chamado FAZER GELATINA onde, numa nada macarrônica traição por parte das chaleiras, são escaldadas em cores de extraordinário e literal mau gosto e aprisionadas em claustros polares. É quando a xícara, bicho nascido para ser bicho nascido de elegância britânica, trinca e duma asa só, almejando um porcenalato céu, sofre a pior tortura que pode sofrer tal criatura: é, forçosamente, regenerada pela super-cola, o Diabo desses bichinhos côncavos e de trejeitos mineiros.

Julinha D.